keyboard_backspace

Página Inicial

Mundo

Com aquecimento do planeta, vírus ‘zumbis’ estão acordando após 50 mil anos

Cientista pede atenção para possíveis liberações de bactérias e vírus com potencial de contaminar humanos

Virus zumbi Visor Notícias
Um dos vírus ‘zumbis’ que cientista está estudando – Foto: Reprodução/Jean-Michel Claverie

À medida que o mundo enfrenta os crescentes impactos das mudanças climáticas, os cientistas estão descobrindo ameaças ocultas nas camadas congeladas do Ártico. O virologista francês Jean-Michel Claverie, com sua pesquisa pioneira, alerta sobre o potencial risco representado pelos vírus “zumbis” encontrados no permafrost.

O permafrost ou pergelissolo é uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada. A maior parte está localizada no hemisfério norte, concentrando-se, principalmente, na região do Ártico

“Já registramos um aumento de 1,2º C desde o período pré-industrial e, com o contínuo derretimento do permafrost, a liberação de metano é apenas um dos problemas emergentes. Mais preocupante ainda é o potencial ressurgimento de patógenos dormentes, anteriormente selados no gelo por milênios”, diz.

Claverie, aos 73 anos, dedicou mais de uma década ao estudo desses vírus, alguns com até 50 mil anos, encontrados na Sibéria. Seus resultados revelaram que esses antigos patógenos, mesmo após milhares de anos, ainda podem infectar. Em 2016, a Sibéria foi palco de um surto de antraz, ativado por esporos liberados durante uma onda de calor, resultando em infecções e uma fatalidade humana.

Essas descobertas vêm em um momento crucial, já que as projeções indicam que o Ártico pode ficar sem gelo no verão entre 2030 e 2050, bem antes do esperado. As mudanças climáticas também estão desencadeando transformações geológicas e geopolíticas na região.

Com o planeta mais quente do que nos tempos pré-industriais, os cientistas preveem que o Ártico poderá ficar sem gelo nos verões até 2030. As preocupações de que o clima mais quente irá libertar gases com efeito de estufa retidos, como o metano, na atmosfera, à medida que o permafrost da região derrete, foram bem documentadas, mas os agentes patogênicos latentes são um perigo menos explorado. No ano passado, a equipa de Claverie publicou uma investigação que mostrava que tinham extraído vários vírus antigos do permafrost siberiano, todos eles infecciosos.

Claverie mostrou pela primeira vez que vírus “vivos” poderiam ser extraídos do permafrost siberiano e revividos com sucesso em 2014. Por razões de segurança, sua pesquisa se concentrou apenas em vírus capazes de infectar amebas, que estão suficientemente distantes da espécie humana para evitar qualquer risco de contaminação inadvertida, mas ele sentiu que a escala da ameaça à saúde pública que as descobertas indicaram foi subestimada ou erroneamente considerada uma raridade.

Assim, em 2019, a sua equipe isolou 13 novos vírus, incluindo um congelado debaixo de um lago há mais de 48.500 anos, a partir de sete amostras diferentes do antigo permafrost siberiano. Ao publicar as descobertas num estudo de 2022, ele enfatizou que uma infecção viral de um patógeno antigo e desconhecido em humanos, animais ou plantas poderia ter efeitos potencialmente “desastrosos”.

 Com as alterações climáticas, estamos habituados a pensar em perigos que vêm do sul — disse Claverie numa entrevista no seu laboratório no campus Luminy da Universidade de Aix-Marseille, França, referindo-se à propagação de doenças transmitidas por vetores de regiões tropicais mais quentes.

— Agora, percebemos que pode haver algum perigo vindo do norte, à medida que o permafrost descongela e liberta micróbios, bactérias e vírus — afirma.

O permafrost, uma vez estável por séculos, está mostrando sinais de instabilidade, com crateras surgindo e cidades afundando. Essas mudanças vêm acompanhadas de tensões políticas, já que a guerra entre Rússia e Ucrânia dificulta a colaboração e pesquisa na área.

Mudanças climáticas  

Por quatro séculos, as camadas profundas do permafrost permaneceram estáveis. Um exemplo disso é o desenvolvimento de cidades na região. No entanto, as mudanças climáticas estão alterando esse cenário. Surgiram crateras na área, e até mesmo cidades estão afundando.

A questão geopolítica também tem desempenhado um papel no atraso das pesquisas. Organizar expedições para a Sibéria e colaborar com laboratórios russos já era um desafio, e a situação piorou com o início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. As comunicações com ex-colegas e colaboradores russos praticamente cessaram.

O laboratório de Claverie, juntamente com muitos outros no mundo ocidental, é financiado pelo governo. Eles receberam instruções para evitar contatos com russos.

As consequências do aquecimento global na Sibéria representam tanto ameaças quanto oportunidades para a economia russa. Cerca de US$ 250 bilhões em infraestrutura estão em risco devido ao degelo do permafrost, e esse fenômeno já contribuiu para desastres ambientais, como o derramamento de petróleo de Norilsk em 2020, à medida que o solo se torna instável.

No entanto, a região possui recursos naturais valiosos, como carvão, gás natural, ouro, diamante e minério de ferro. Ao contrário de outras regiões com permafrost, como o Alasca e a Groenlândia, a Rússia tem sido mais ativa na exploração desses recursos.

Alguns cientistas também expressam preocupação de que tecnologias, como a usina nuclear flutuante russa Akademik Lomonosov, possam abrir áreas anteriormente inacessíveis ao longo da costa da Sibéria para a mineração, à medida que rotas livres de gelo no Círculo Ártico aumentam a acessibilidade.

Isso levanta a questão da pesquisa em si, que busca identificar ameaças à humanidade, mas inadvertidamente pode propagar perigos. A possibilidade de contaminação cruzada durante expedições de coleta de amostras é significativa. Portanto, alguns pesquisadores começam a defender abordagens mais cautelosas e menos ávidas por recursos.

Claverie sugere que seria útil estabelecer um sistema especializado para monitorar a saúde da população inuíte, a fim de identificar doenças emergentes de forma mais rápida, caso venham do permafrost.

Outras organizações também estão cientes desse risco. Recentemente, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional abandonou um projeto de US$ 125 milhões que visava buscar vírus em regiões do sudeste asiático, África e América Latina que poderiam potencialmente infectar seres humanos, devido a preocupações de que a pesquisa em si possa desencadear uma pandemia.

Enquanto isso, Claverie afirma que não planeja retornar à Sibéria, independentemente do desfecho da guerra. Ele enfatiza que o perigo existe e que prosseguir em expedições para desvendar segredos nas profundezas congeladas seria insensato.

“À medida que envelhecemos, desenvolvemos uma perspectiva mais filosófica”, diz ele. “Pode ser melhor deixar essas coisas em paz.”

Quer receber as notícias em tempo real?

Clique aqui para entrar no nosso grupo do WhatsApp e fique sempre bem informado.

⚠ ATENÇÃO: Caso não esteja conseguindo clicar no link das notícias, basta adicionar um administrador do grupo em sua lista de contatos.

Fonte: Visor Notícias

Sobre o autor:
Brunela
Brunela Maria
Brunela Maria é jornalista desde 2011 e formada pelo Centro Universitário IESB, em Brasília. Trabalhou no Notícias do Dia, em Florianópolis e na Record TV Brasília. Atua como repórter no portal Visor Notícias e também na WebTV desde 2019.

Experimente um jeito prático de se informar: tenha o aplicativo do Visor Notícias no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples, intuitivo e gratuito!

Mundo

Estudo diz que Oceano Atlântico vai desaparecer e formar um “supercontinente”

Formado há 150 milhões de anos pela separação dos continentes África e Europa, o Atlântico está destinado a fechar novamente

Mundo

Ex-Miss Venezuela morre aos 24 anos após cirurgia na boca

Procedimento visava à remoção de um caroço no lábio superior

Mundo

VÍDEO: Ataque com faca em shopping da Austrália deixa ao menos 7 mortos

Tragédia iniciou quando um homem armado atacou frequentadores de um shopping

Mais notícias

Brasil

Médicos veterinários pedem regulamentação para transporte de animais

Após o caso do cachorro Joca, CFMV fez um alerta às autoridades

Animal

Após morte de Joca, tutores se manifestam em aeroportos do país

Tutores de pets e organizações não governamentais de defesa de animais protestaram em outras capitais do país