O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou na segunda-feira, 22, durante o seminário “Brasil Hoje”, organizado pelo Grupo Esfera, que a digitalização da moeda – converter dinheiro físico em uma forma eletrônica ou digital – pode auxiliar na redução do crime financeiro. Ele enfatizou que, apesar de não ser possível eliminar completamente o crime financeiro, iniciativas como o Pix, o sistema instantâneo de pagamentos do Banco Central, facilitam o rastreamento de fraudes, uma vez que os fundos fraudulentos devem eventualmente ser depositados em contas bancárias, permitindo às autoridades a possibilidade de acompanhamento.

Campos Neto também comentou sobre o orçamento limitado do Brasil para políticas públicas de segurança, mencionando que o país possui menos espaço fiscal comparado a outras nações emergentes devido à alta carga tributária e dívida elevada. Ele sugeriu que, dado o orçamento restrito, o país deve focar em inteligência e eficiência na alocação de recursos, além de uma maior colaboração com o setor privado.

Sobre a digitalização do dinheiro

A digitalização tem revolucionado diversas áreas — e não seria diferente com o dinheiro. A migração do papel-moeda para um formato eletrônico já vinha acontecendo em ritmo acelerado, mas foi ainda mais impulsionada pela pandemia do coronavírus e, mais recentemente, pela ampla adoção de modelos de pagamentos instantâneos pelo mundo, como o PIX no Brasil.

No entanto, uma revolução ainda maior está a caminho com o surgimento das moedas digitais. As moedas digitais são diferentes do formato eletrônico de dinheiro que vemos hoje. Atualmente, qualquer cidadão pode transformar, caso queira, dinheiro armazenado eletronicamente em sua conta de banco em dinheiro físico — as moedas digitais, contudo, existiriam somente no formato digital.

Entenda mais sobre a moeda digital:

Moeda digital é qualquer moeda disponível exclusivamente em um formato digital. Esse é exclusivamente o que diferencia as moedas digitais do formato eletrônico do dinheiro que utilizado como padrão hoje. No Brasil, por exemplo, o papel-moeda do Real em circulação está em declínio a cada ano; a grande parte do dinheiro em circulação no país é mantido em depósitos bancários em formato eletrônico.

No entanto, esse dinheiro em formato eletrônico disponível atualmente pode ser transformado em dinheiro físico a qualquer momento. Qualquer pessoa pode ir a um caixa eletrônico, inserir o cartão do seu banco e sacar algumas notas no valor desejado. Com a moeda digital, pelo contrário, isso não pode ser feito.

A moeda digital só existe dentro de uma rede de computadores e só pode ser negociada dentro dessa rede. No entanto, isso não significa que ela não tenha valor — em vez de pagar por compras ou contas com papel-moeda, você faria seus pagamentos transferindo moeda digital por meio de um dispositivo móvel ou computador.

Na prática, isso não é tão diferente de como você atualmente trata seu dinheiro usando sistemas de pagamento como o PIX ou contas em bancos digitais, mas há uma grande diferença na estrutura por trás dos sistemas.

Após o lançamento bem-sucedido de criptomoedas descentralizadas como Bitcoin e Ethereum, que armazenam valor, mas não são gerenciadas por nenhuma autoridade central, governos e bancos centrais em todo o mundo estão pesquisando a possibilidade de criar suas próprias moedas digitais.

Como funciona a moeda digital?

Na teoria, a digitalização do dinheiro funcionaria de forma semelhante ao sistema em que temos hoje. Um funcionário poderia receber de uma empresa seu salário em moeda digital, depositada em uma conta bancária, de forma que esse dinheiro passaria a ser do funcionário.

Um ponto importante é que, para que isso aconteça e a moeda digital tenha valor, todos os atores econômicos devem aceitá-la para quaisquer fins legais. Afinal, o conceito do dinheiro é baseado na confiança. Quando você paga alguém com uma nota de R$ 50, a pessoa só aceita por acreditar que poderá fazer o mesmo usando aquela nota.

No caso da digitalização do dinheiro, a ideia é a mesma. Assim, você poderia pagar seus impostos com moeda digital, pagar contas, transferir fundos e tudo que pode fazer hoje.

Isso contrasta com as chamadas criptomoedas, que não têm aceite legal na maioria dos países. Apenas alguns fornecedores aceitam criptomoedas diretamente, então as pessoas podem precisar converter sua criptomoeda em dólares antes de fazer a maioria das transações.

Quando você usa criptomoedas como forma de pagamento, atualmente também cria um evento tributável, o que significa que você pode dever impostos sobre ganhos de capital cada vez que comprar algo com Bitcion ou Ethereum. Isso além de quaisquer impostos sobre vendas. Com uma moeda digital nacional, no entanto, você só deve os impostos sobre vendas aplicáveis, da mesma forma que faz com a moeda física.

Os benefícios da digitalização do dinheiro incluem:

• Pagamentos mais rápidos. A digitalização do dinheiro aceleraria as transações, permitindo que compras e pagamentos sejam realizados de forma muito mais rápida do que nos modelos atuais;
• Transferências internacionais mais baratas. As transferências financeiras entre países atualmente são muito caras, especialmente quando isso envolve conversões de moeda. Os ativos digitais eliminam essas barreiras e reduzem os custos;
• Permanência de registros. As fraudes com dinheiro real acontecem em toda parte. No entanto, o dinheiro digital é conhecido por ser seguro e transparente. Isso implica que a permanência dos registros os tornam confiáveis para serem tratados pelos indivíduos. Além disso, isso sugere que realizar fraudes se torna muito mais difícil devido à segurança absoluta que é onipresente no processo de trabalho do dinheiro digital;
• Acesso 24 horas por dia, 7 dias por semana. A moeda digital estenderia o benefício trazido pelo PIX, possibilitando que transferências e pagamentos sem limites sejam realizados instantaneamente, a qualquer hora do dia, em qualquer dia da semana.

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