As recentes chuvas devastadoras no Rio Grande do Sul deixaram um rastro de destruição e desafios emocionais para os socorristas envolvidos nas operações de resgate. O tenente-coronel Felipe Sommer, piloto da aeronave Águia 07 da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC), descreve o cenário de ruas e casas submersas, onde centenas de pessoas buscavam refúgio nos telhados.
“Recebíamos um chamado específico para resgatar alguém numa casa de determinada rua. Mas, quando chegávamos, a casa já não existia mais, e a rua, só no Google Maps”, relata Sommer. Ele descreve a imagem de vítimas acenando desesperadamente, segurando crianças no alto para chamar a atenção do helicóptero. “Tínhamos que escolher quem salvar. Queríamos ajudar todos, mas o peso limitado da aeronave nos obrigava a decisões dolorosas”.
Sommer e sua equipe foram enviados ao Rio Grande do Sul na última quarta-feira (1°) e, logo no primeiro dia, resgataram 34 pessoas. O número subiu para 244 no dia seguinte, incluindo grávidas, crianças e pessoas com dificuldades de locomoção.
“Nós choramos algumas vezes. Perder metade da família e quase tudo o que têm é uma realidade que muitas das vítimas enfrentam”, diz Sommer, sobre a intensidade emocional de seus dias. “Precisávamos engolir o choro e focar na missão.”
No total, a equipe de Sommer atuou das 7h às 17h, parando apenas para reabastecer. Eles trabalharam incansavelmente para salvar o maior número possível de pessoas, mesmo diante de escolhas difíceis. “Foi a maior experiência profissional dos meus 20 anos de PMSC. Cumprimos nosso juramento, deixando tudo de lado para salvar vidas”, conclui.
Na manhã desta segunda-feira (6), 83 mortes foram confirmadas, e 111 pessoas seguem desaparecidas. A rendição de equipes e o revezamento no quartel da corporação em Araranguá garantiram que a maior equipe de bombeiros militares de Santa Catarina continue a apoiar os esforços de resgate no estado vizinho.
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