Após o fim das oitivas de vítimas, testemunhas e informantes sobre o caso da boate Kiss, o sócio proprietário da casa noturna, Elissandro Spohr, o primeiro dos réus a ser interrogado pelo tribunal do júri, chorou em seu depoimento nesta quarta-feira (8) e afirmou que pensou em se suicidar após o incêndio que matou 242 pessoas, em 2013. Ele disse estar cansado. “Querem me prender, me prendam. Eu estou cansado”.
Após contar sua trajetória de músico a empresário, ele se emocionou ao lembrar da tragédia. Kiko contou que estava do lado de fora da boate quando um funcionário correu para avisar sobre o fogo. Na sequência, ele tentou entrar, e já havia uma multidão correndo para fora.
“Eu não sabia o que fazer. Eu disse pra alguém ‘me leva pra delegacia’ eu disse: tá pegando fogo na boate, tá morrendo gente: eu não sei o que fazer. Ela me perguntou: ‘os bombeiros estão lá’ e eu disse: ‘estão’”. Ele contou que vomitou quando foi informado de que havia 30 mortos no incêndio, e que o sofrimento aumentou conforme os números foram sendo atualizados durante o dia. Nos dias seguintes, recebeu de amigos mensagens sugerindo que se suicidasse e pensou em fazê-lo, segundo seu relato.
A primeira vez que Kiko chorou em seu depoimento foi ao lembrar do sucesso que a boate foi. “Quando se fala de Kiss, se lembra da parte ruim, e, às vezes, quando o cara lembra da boa, também causa uma coisa porque também teve uma parte boa”, disse ao lembrar das ideias que teve para a casa noturna. Relatou que o sucesso começou quando criou um evento chamado ‘Quinta Absoluta’. “Foi tudo perfeito. A Kiss começou a ter um sucesso.”
Na sequência, Elissandro voltou a falar da noite do incêndio, quando começou a entrar em desespero. Ele se dirigiu aos pais das vítimas, sentados ao fundo da sala de julgamento, falando que aceitava a condenação. Relatando estar muito cansado, o estado de nervos fez com que o juiz solicitasse uma pausa no depoimento. Problemas na Kiss
Spohr relata como a boate instalou uma espuma de isolamento acústico que, na noite da tragédia, ajudou a propagar o fogo. Ele contou que uma vizinha reclamava de forma persistente sobre o barulho. “Tentei de tudo para resolver, cheguei a oferecer para ele que ela ficasse em um apartamento e pagaria um outro apartamento só para não ter um incômodo para ela.” Spohr contou que recorreu ao engenheiro Samir Samara para conversar sobre o isolamento acústico e recordou que foi chamado ao Ministério Público.
“Levei o Samir comigo lá. Samir disse que estava cheio de trabalho e que me indicaria um engenheiro [Miguel Angelo Pedroso]. A gente não botou espuma em toda a boate por conta do Pedroso. Ele disse ‘eu não trabalho com espuma’ Samir dizia que tinha que fazer um tratamento acústico e ele me deu uma opção de fazer com tijolo na época.”
Kiko disse que Pedroso recomendou que ele fizesse uma parede de pedra. “Ele me deu umas explicações ótimas e eu comprei a ideia e disse ‘é isso’. Eu fiz uma parede de pedra, rosa, de ponta a ponta.” Segundo Spohr, o projeto foi feito por Pedroso. “Ele foi o engenheiro que ia lá acompanhar a obra.” O plano inicial de colocar espuma em toda a obra acabou alterado para instalar apenas sobre o palco.
Banda e pirotecnia
Questionado se a banda teria informado sobre os artefatos pirotécnicos, Spohr disse que não se lembra de ter sido pedido autorização. “Eu não me lembro disso. Eu teria pelo menos analisado. Eu acho que eu não deixaria. Eu não deixaria. Sem a minha autorização. Acredito que eles achavam que esse treco não pegava fogo.”
Segundo Spohr, a banda Gurizada Fandangueira já havia tocado na Kiss antes da noite da tragédia algumas vezes. “É possível que nesse palco novo tenha sido a primeira vez. É possível que com as espumas ali tenha sido a primeira vez. Talvez essa vez do dia tenha sido a segunda vez que eles tenham tocado nesse palco.”
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