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Coach do emagrecimento receitava manipulados com remédios tarja preta ‘escondidos’

Os efeitos colaterais dos medicamentos ocultos pelo coach incluem hipertensão, infarto, alucinações, tonturas, ansiedade, extrema fadiga, depressão, alterações cardíacas e problemas gástricos

operacao venefica substancias perigosas sao omitidas de bulas de medicamentos veja quais 800x533 1 Visor Notícias
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A Operação Venefica, que já indiciou 21 pessoas por crimes à saúde e teve desdobramentos em Balneário Camboriú, Itapema e Joinville, revelou a presença de substâncias controladas, como sibutramina, anabolizantes, anfetaminas e hormônios, em medicamentos fornecidos por clínicas de emagrecimento. Alarmantemente, essas substâncias, que exigem prescrição e monitoramento médico, não eram descritas das bulas dos produtos.

LEIA MAIS: Operação Venefica indicia 21 pessoas por crimes à saúde envolvendo coach de emagrecimento

Conforme o Ministério Público (MPSC), o coach do emagrecimento, apontado como o cérebro por trás desse esquema ilícito, concebia “protocolos” de medicamentos. Esses “protocolos” incluíam compostos direcionados para objetivos como emagrecimento, ganho muscular e melhora da performance física, com ingredientes cuja venda sem receita é ilegal.

Um agravante é que o coach não possui formação médica. Para contornar essa lacuna, ele recrutava médicos dispostos a assinar prescrições sem antes examinar os pacientes ou avaliar seus históricos médicos.

Muitos pacientes, sem saber do conteúdo real dos medicamentos, denunciaram a falta de transparência sobre as substâncias utilizadas. Devido à omissão, eles desconheciam completamente o que consumiam.

O MPSC também descobriu que uma combinação perigosa foi empregada em certos medicamentos. A sibutramina, por exemplo, foi misturada com venvanse/lisdexanfetamina, um psicotrópico derivado de anfetamina. Este último composto também era utilizado nas clínicas sem o devido aviso aos pacientes.

O Dr. Tadeu Lemos, psicofarmacologista e professor na UFSC, alertou sobre os riscos destas substâncias. Segundo ele, elas podem causar dependência e têm impactos negativos em sistemas como o hepático, cardiovascular e reprodutor. Além disso, ele enfatiza que o uso combinado desses ingredientes é altamente contraindicado.

Substâncias perigosas foram encontradas

A denúncia do Ministério Público (MPSC) aponta diversas substâncias presentes nos medicamentos sob investigação:

Sibutramina: Este medicamento é utilizado no tratamento da obesidade. Funciona no sistema nervoso central, proporcionando uma sensação de saciedade. Lemos compara a sibutramina à anfetamina, mas destaca que a dependência é menor. O medicamento é tarja preta e precisa de receita especial para ser vendido.

Os efeitos colaterais conforme bula incluem taquicardia, palpitações, aumento da pressão arterial/hipertensão, vasodilatação (ondas de calor), náuseas, piora da hemorroida, delírios/tonturas, parestesia, cefaleia, ansiedade, sudorese e alterações do paladar.

Venvanse/lisdexanfetamina: Além da sibutramina, o venvanse/lisdexanfetamina também é empregado para emagrecimento e tem ação no sistema nervoso central, mas normalmente é receitado por psiquiatras para pacientes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O medicamento também é tarja preta e precisa de uma receita específica para ser vendido. De acordo com as informações do MPSC, esta substância é um psicotrópico medicinal derivado da anfetamina.

Os efeitos colaterais conforme bula incluem problemas para dormir, dor de cabeça, perda de peso, boca seca, dor abdominal, morte súbita, infarto do miocárdio, doença do músculo cardíaco, episódios psicóticos, convulsões, acidente vascular cerebral, alucinação, Síndrome de Stevens-Johnson, Necrólise Epidérmica Tóxica, reação anafilática, angioedema, hepatite eosinofílica, prolongamento do intervalo QT, fenômeno de Raynaud, redução no fluxo sanguíneo intestinal, cardiomiopatia, impotência e agressividade.

Durateston (testosterona), oxandrolona e somatropina: O Durateston e a oxandrolona são hormônios masculinos. Já a somatropina é um hormônio do crescimento, usualmente administrado em crianças e, ocasionalmente, em adultos com deficiência do mesmo. Os três medicamentos são faixa vermelha, ou seja, precisam da retenção de receita médica para serem comercializados.

Os efeitos colaterais conforme bula incluem: O Durateston pode causar: acne, coceira, aumento da próstata, crescimento de mamas em homens, aumento da contagem de glóbulos vermelhos, alterações do perfil lipídico, aumento de pelos, voz mais grave, alterações de humor, depressão, agressividade, nervosismo e irritabilidade. A oxandrolona pode causar: náuseas, vômitos, perda de cabelo, alterações na libido, depressão, retenção de líquidos, alterações hepáticas, redução dos níveis de HDL, acne, hipertrofia prostática e masculinização em mulheres. A somatropina pode provocar: dor e edema, dor nas articulações, rigidez articular, mialgia, síndrome do túnel do carpo, ginecomastia, parestesia, resistência à insulina e reações alérgicas

Liotironina, T4-tiroxina e T3 triiodotironina: Hormônios relacionados à tireoide. A particularidade é que estes podem ser adquiridos mesmo sem a apresentação de receita médica.

Os efeitos colaterais conforme bula incluem: taquicardia, palpitações, arritmias cardíacas, dor no peito, dispneia, sudorese excessiva, febre, intolerância ao calor, insônia, nervosismo, ansiedade, tremores, fraqueza, fadiga, perda de peso, aumento do apetite, diarreia, vômitos, cãibras musculares, dores de cabeça, perda de cabelo, alterações menstruais, hipertensão, osteoporose, inchaço, reações alérgicas (incluindo erupção cutânea e urticária), e, em casos raros, insuficiência adrenal.

Efeitos e implicações

Dr. Tadeu Lemos salienta que as substâncias citadas são frequentemente utilizadas em tratamentos para emagrecimento. Entretanto, é crucial que o paciente se submeta a avaliações médicas regulares ao optar por qualquer uma dessas medicações.

“Esses medicamentos demandam revisões médicas constantes, especialmente devido ao risco de gerar dependência”, aponta o psicofarmacologista. Ele ainda alerta para possíveis efeitos colaterais, que necessitam da análise de profissionais da saúde.

Tanise, uma endocrinologista experiente, concorda sobre os benefícios desses medicamentos, desde que sejam utilizados sob supervisão médica. “A combinação de medicações pode trazer riscos à saúde”, adverte.

Quanto aos efeitos colaterais dessas substâncias, o psicofarmacologista destaca náuseas, vômitos, desarranjos gástricos e alterações na temperatura corporal.

Ele adverte sobre o perigo do consumo excessivo de anabolizantes, substâncias potencialmente danosas ao fígado, podendo desencadear problemas renais e até mesmo câncer. “Essas substâncias alteram a função cardíaca, levando a hipertensão, aumento do coração e propensão à formação de coágulos, aumentando o risco de infarto”, complementa.

Sobre a somatropina, Tanise explica que, quando usada de maneira inadequada, ela pode promover o crescimento anormal das extremidades e elevar o risco de surgimento de tumores.

Em relação aos hormônios tiroidianos, que são comercializados mesmo sem prescrição médica, Tanise adverte: “Apesar de serem indicados para o tratamento do hipotireoidismo, quando utilizados inadequadamente podem resultar em arritmias, palpitações e até acidentes vasculares cerebrais.”

Para além dos efeitos provocados pelos próprios fármacos, existem sintomas associados à abstinência e dependência química dessas substâncias, tais como ansiedade, agressividade e oscilações de humor.

Tadeu reforça a essencialidade de um acompanhamento médico durante todo o tratamento. Esta orientação não tem sido seguida por algumas clínicas, que prescrevem medicamentos sem a devida consulta ou análise médica.

O MPSC aponta o coach como responsável por diversos delitos, como falsidade ideológica, prática ilegal da medicina, participação em organização criminosa e até mesmo lavagem de dinheiro.

O superfaturamento de medicamentos no esquema de saúde ilegal

Uma nova faceta do esquema ilegal liderado pelo coach foi revelada durante as investigações da Polícia Civil: o superfaturamento de medicamentos. O coach, após sua prisão em 2017, refinou seu método criminoso formando parcerias com profissionais da saúde para prescrições e aplicações indevidas de anabolizantes, emagrecedores e fitoterápicos.

Segundo o Ministério Público, Francisco frequentemente formulava seus próprios medicamentos sem embasamento científico, já que não tem formação na área. Essas drogas eram, em sua maioria, adquiridas de forma clandestina em outros países. As investigações também apontam que farmácias de manipulação envolvidas estavam cientes de que os medicamentos eram alterados.

O delegado Neto Gattaz revela que a maior fonte de receita da organização criminosa era justamente a venda desses medicamentos. Para aumentar os lucros, os preços eram inflacionados. Em algumas situações, o rótulo da receita nem sequer era utilizado, ou a quantidade do composto ativo no medicamento era menor do que a prescrita.

Segundo o investigador, os medicamentos vendidos pelas clínicas dele eram superfaturados em cerca de 30%. Um remédio que normalmente custaria entre R$ 60 e R$ 70 em outras farmácias era vendido por até R$ 300 na clínica. O superfaturamento, portanto, torna-se mais um ponto de atenção em um caso já complexo e multifacetado.

Cinco clínicas e duas farmácias na mira da polícia

Além do indiciamento de 21 pessoas por diversos crimes, o inquérito contra o esquema de saúde ilegal liderado pelo coach levou ao fechamento temporário de cinco clínicas e duas farmácias. As unidades da clínica em Joinville e Balneário Camboriú foram interditadas, juntamente com outros estabelecimentos ligados aos investigados, descritos como “pupilos” do suspeito.

Em Joinville, além da clínica do suspeito, outras clínicas foram fechadas: uma no bairro América, e outra no bairro Boa Vista, e uma clínica de Medicina Personalizada no Centro da cidade. As duas primeiras foram fundadas por ex-funcionárias do famoso coach que abriram seus próprios negócios ilegais.

Em Balneário Camboriú, a uma das clínicas, de propriedade da ex-esposa do coach, também foi interditada pela Vigilância Sanitária estadual. Duas farmácias de manipulação, uma em Balneário Camboriú, e uma em Itapema, foram igualmente fechadas.

O delegado Neto Gattaz afirmou que ainda é cedo para determinar o número exato de vítimas envolvidas no esquema. Contudo, uma fonte que trabalhava em uma das clínicas alega que o estabelecimento atendia até 40 pessoas por dia, sugerindo que o impacto possa ser extenso.

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Fonte: Com informações de ND+

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