Era com baldes de zinco nas mãos, desviando de cobras e outros animais peçonhentos pela estrada de chão batido, entre subidas e descidas íngremes, assim que o sol surgia no horizonte, que Salete Maria Pinheiro Pereira, percorria vários quilômetros para buscar água.
Quando Bombinhas ainda era só um pequeno povoado, ir até a fonte que matava a sede da comunidade era uma tarefa difícil. Hoje, com 78 anos ela relembra com carinho dessa era sem tecnologia e do esforço que fazia quando era criança para ter água em casa. “Eu e minha irmã buscávamos água nos baldes que eram pesados. Era sofrida a vida, não tinha essas facilidades de água na torneira, no chuveiro para tomar banho, mas a gente se virava”, recorda.
Salete Maria Pereira, de 78 anos, moradora de Bombinhas lembra como era díficil buscar água na fonte para matar a sede quando ainda nem existia água encanada. Foto: Júnior Lara/Visor Notícias
Um elo entre passado, presente e o futuro, a água, é o recurso da vida. E nesse contexto, Salete, que caminhou tanto carregando água em balde para matar a sede, agora só abre a torneira de casa e lá está a água, abundante, pronta para o consumo. “É tão fácil, e quem diria que seria assim, nunca imaginei. Naquele tempo eu rezava para não acabar de noite, porque tínhamos que ir até a fonte, agora ela está prontinha ali”, comenta.
Ter a água encanada, tratada e pronta para beber é resultado de fatores que envolvem um item indispensável em tempos modernos: tecnologia. A transformação que viveu Bombinhas nos últimos anos também envolve o tratamento e cuidados relacionados à água. Antes de todo esse crescimento, era da fonte, que segundo Salete, “brotava a água com fervor da terra”, que a população tinha acesso ao recurso. Décadas depois, a água vem da cidade de Tijucas, através de um projeto implementado pela Aegea, a concessionária responsável pelo abastecimento de água e esgotamento sanitário no município.
A empresa realizou um investimento milionário, implementando 27 quilômetros de adutora e a construção da Estação de Tratamento de Água (ETA) com capacidade de até 210 litros por segundo. Isso garantiu uma cidade com sistema de abastecimento independente e moderno, resultando em estabilidade hídrica e água de qualidade nas torneiras. E mais uma vez, a tecnologia foi a grande virada de chave para resolver o que Dona Salete e outros tantos moradores sentiram por anos na pele.
Essa tecnologia também ajuda no tratamento da água que chega até a ETA. O coordenador da Águas de Bombinhas, Daniel Machado, explica que os processos do cuidado da água envolvem etapas que utilizam métodos altamente tecnológicos.
Daniel Machado, Coordenador da Águas de Bombinhas, destaca o quanto a tencologia é um diferencial no tratamento de água – Foto: Júnior Lara/Visor Notícias
“Quando falamos de abastecimento em Bombinhas estamos falando diretamente de tecnologia. Que vai desde o momento de captação, distribuição, que conta com booster, elevatórias intermediarias e tudo isso envolve ações que empregam tecnologia”, destaca.
A ETA conta com três módulos e cada um possui a capacidade de tratar 70 litros por segundo na baixa temporada. “Contamos com tecnologias através de equipamentos que auxiliam no controle da turbidez da agua, no sistema de telemetria e temos reservatórios com pontos de monitoramento espalhados pela cidade”, reforça Machado.
ETA Bombinhas fica localizada no morro de Zimbros e trata 70 litros por segundo na baixa temporada e durante o verão a capacidade é de 210 litros por segundo. Foto: Junior Lara/Visor Notícias
Para a presidente da Aegea em Santa Catarina, Reginalva Mureb, Bombinhas tem se destacado na tecnologia e nos investimentos para o abastecimento de água. “O município conta com universalização de água. A única localidade que ainda não chegamos é na Praia da Tainha para atendimento de 50 famílias, o que é menos de 1% da população de Bombinhas, mas, já estamos providenciando. E, sobre a tecnologia, fizemos uso de Inteligência Artificial para garantir maior precisão no tratamento de água. Também usamos métodos para mapear e desenhar projetos básicos e executivos e na implementação do sistema, ou seja, investir em tecnologia é garantir a qualidade de vida e água potável e tratada”, destaca.
Central de Operações promove tecnologia para um saneamento inteligente
Cuidar da água e do saneamento básico e buscar soluções tecnológicas foi uma das prioridades da Aegea, que tem se destacado como líder no setor privado de saneamento em 15 estados, entre eles, em Santa Catarina. A empresa, que gerencia o abastecimento de água e o saneamento em Camboriú, Bombinhas, Penha e São Francisco do Sul, investiu também em um setor tecnológico que é capaz de monitorar através de softwares toda a rede de abastecimento nessas cidades.
O Centro de Operações Integradas (COI) fica em Camboriú. A sala possui oito telas, computadores, gráficos e uma vasta quantidade de dados, amparados por sistemas desenvolvidos para realizar o controle remoto de todo o sistema de água e esgoto de diversas cidades da região, incluindo Bombinhas.
Centro de Operações Integradas coordenada todo sistema de abastecimento de água e tratamento de esgoto da Aegea. Foto: Júnior Lara/Visor Notícias
Chamado de “cérebro” da concessionária, esse espaço, tem 10 pessoas trabalhando, opera 24 horas por dia, monitorando e gerenciando o abastecimento e tratamento de esgoto de forma contínua e precisa durante sete dias por semana. E mais uma vez, o destaque envolve a tecnologia que está alinhada de forma crucial para garantir qualidade ao cliente.
“Desse local, coordenamos todas as operações de forma remota: o sistema de bombeamento, os reservatórios, a estação de tratamento de água. Isso tudo é acompanhado a partir da captação do rio Tijucas, até a distribuição final para as casas, monitoramos cada etapa para garantir a regularidade do abastecimento e a eficiência do tratamento”, explica Arthur May, Coordenador do COI.
A tecnologia empregada no COI vai além do que se vê em campo. Embora o sistema de telemetria já seja utilizado de forma global, o desenvolvimento dos softwares de operação é feito internamente, o que torna o processo ainda mais eficiente e personalizado para as necessidades.
“Nós desenvolvemos os softwares que operam o sistema. Eles oferecem informações detalhadas sobre toda a operação, permitindo que nossos operadores façam uma análise crítica dos dados e ajustem as operações, encaminhando as demandas para as equipes de campo”, afirma May.
Eficiência para garantir atendimento na alta temporada
Em Bombinhas, por exemplo, o controle sobre a distribuição de água é essencial, principalmente durante a alta temporada, quando o número de turistas aumenta significativamente. “Temos todo o sistema monitorado, incluindo os 27 quilômetros de adutora que abastecem a cidade. Controlamos tudo daqui, e, com base no número de turistas que entram em Bombinhas, ajustamos o abastecimento para atender à demanda”, detalha o coordenador do COI, Arthur May.
Com a capacidade de identificar variações na pressão e vazão em tempo real, o COI também permite uma resposta rápida a possíveis problemas na rede. Além disso, a tecnologia utilizada consegue monitorar o desempenho de boosters, equipamentos que garantem a pressão adequada em áreas mais altas, e o nível dos reservatórios, assegurando o abastecimento contínuo para a população.
Desenvolvido por uma empresa de Belo Horizonte, eles são eficazes para contribuir com o abastecimento, conforme explica Daniel Moreira, CEO da empresa DM Controles de Minas Gerais. “Temos fornecido o sistema Booster Container e ele tem uma automação com controle de pressão e vazão. Através da Central é possível monitorar o trabalho, literalmente ele vai empurrar a água e vai funcionar quando reduzir a pressão na rede. O equipamento está ajustado para atender a demanda quando é necessário”, diz.
Santa Catarina desperdiça 315 litros por dia em cada ligação de água
Se de um lado a tecnologia contribui para tratar água, do outro ela é a esperança para ajudar a combater um problema que preocupa muito em Santa Catarina: o desperdício de água. Segundo o Instituto Trata Brasil, em 2022, mais de 35% da água tratada foi desperdiçada no Estado. Isso equivale a 315 litros por ligação por dia perdidos no sistema de distribuição, o que daria para abastecer 615 mil pessoas.
Para Luana Pretto, presidente executiva do Instituto Trata Brasil, esses números representam 266 piscinas olímpicas de água tratada que foram perdidas. E, essa perda, segundo ela, impacta no meio ambiente, já que é preciso captar muito mais água nos mananciais, e por fim, quem paga pelo desperdício é o próprio cidadão, já que automaticamente isso tende a parar na tarifa.
“A água desperdiçada está inserida em dois grandes grupos, um deles é o de perdas físicas, sendo vazamentos visíveis e ocultos, e o outro é a perda comercial, que envolve gatos, furtos e erros na medição. O outro cenário é o custo da ineficiência. A água captada no rio passa por processos químicos para ser distribuída, e isso envolve investimento, energia elétrica e todo processo de tratamento. Então, ter perda de água envolve desperdício de investimento”, salienta.
Em Bombinhas, a Aegea registrou 11% de perdas de água. Mesmo com ações pontuais da concessionária, o número ainda representa preocupação para quem sabe da importância de preservar os recursos hídricos. Por isso, a tecnologia tem sido utilizada para reverter essa situação.
“Temos investido muito em tecnologia em Santa Catarina. Usamos metódos que envolve Inteligência Artificial para identificarmos vazamentos, primeiro pela setorização, depois geofonamento, que é um equipamento que identifica onde acontece o problema. Além disso, temos softwares direcionados para esse setor”, comenta Reginalva Mureb, presidente da Aegea em Santa Catarina.
Com um setor especializado no assunto, a companhia tem acompanhado de perto essa questão. Conforme avalia Bruna Sedrez, especialista de perdas de água da Aegea, esse tema é importante por conta da escassez hídrica que o estado vem enfrentando. Segundo ela, a empresa aplica investimentos diretos nessa área que envolvem melhorias de cadastros comerciais e técnicos, em parques de hidrômetros para obter medições corretas, e principalmente automação.
“Ter equipamentos confiáveis e tecnológicos ajudam a monitorar e detalhar onde ocorre as perdas de água. A automação, por exemplo, nos permite ter em tempo real o controle dos bombeamentos e os níveis de reservatórios. Outro destaque são as tecnologias aplicadas como a pesquisa acústica de vazamentos, que ajudam a mostrar onde estão os vazamentos que não afloram. Por fim, a inteligência artificial vem ser também uma ótima ferramenta para apresentar anomalias nas redes”, reforça.
Buscar soluções para reduzir as perdas envolve também o uso de um plano estruturado, na avaliação de Luana Pretto do Trata Brasil. “Existe uma deterioração na tubulação no sistema de distribuição e ao longo do tempo isso tende a piorar. Portanto, é preciso entender quais são os pontos onde acontece a redução de agua, é preciso instalar válvulas, usar sensores de vazão para identificação dos vazamentos, e claro, usar a tecnologia na identificação dos vazamentos. A inteligência artificial ajuda inclusive a identificar furtos de água de maneira assertiva”, diz.
Universalização do saneamento e o desafio no combate à perda de Água
Para 2026, o problema envolvendo a perda de água no país, também será amplamente discutido a nível federal. Com o novo marco do saneamento básico, que criou um arcabouço legal, administrativo e regulatório, para que todas as esferas somem esforços a fim de universalizar o acesso e a efetiva prestação do serviço público de abastecimento de agua e saneamento básico, a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) integra esse esforço com a missão de editar normas de referência com diretrizes para a regulação desses serviços no país. E o desperdício de recurso hídrico está em pauta.
O Superintendente Adjunto de Regulação de Saneamento Básico da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Alexandre Anderáos destaca que é urgente esse assunto no Brasil, diante de escassez hídrica grave que o país enfrenta.
“Perdas de água, será uma norma que a ANA vai trabalhar em 2026. É um tema importante porque no Brasil é muito grande a média de perdas na rede. Os prestadores de serviço vão ter que estabelecer metas para níveis aceitáveis, porque há regiões brasileiras onde a perda é muito maior, e algumas localidades chegam a 70%. E isso está no nosso radar e vai ser tratado”, destaca.
A preservação dos recursos hídricos é vista como um dos maiores desafios ambientais da atualidade, e por isso o avanço da tecnologia tem se mostrado uma aliada essencial para garantir o uso sustentável da água e a preservação da natureza. Com o aumento da demanda por água potável e o impacto das mudanças climáticas, a aplicação de inovações tecnológicas na gestão de recursos hídricos tornou-se indispensável para equilibrar o abastecimento e a conservação dos ecossistemas.
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Fonte: Visor Notícias
Sobre o autor:
Brunela Maria
Brunela Maria é jornalista desde 2011 e formada pelo Centro Universitário IESB, em Brasília. Trabalhou no Notícias do Dia, em Florianópolis e na Record TV Brasília. Atua como repórter no portal Visor Notícias e também na WebTV desde 2019.
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